O antigo Clube de Leitura em Voz Alta deu lugar ao Coro de Leitura em Voz Alta. Tem normalmente um periodicidade quinzenal e acontece na Biblioteca de Alcochete.

Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.

12 outubro 2010 - FLORESTA



Leituras:

O João falou-nos das sequóias
100 Maravilhas do Mundo

Como curiosidade e porque falámos nelas # As sequóias de Sintra

A Mila leu-nos um poema retirado do filme da Disney;
Pocahontas

Mariana
O Génio da Floresta
Texto de Maria de Lurdes Marcelo
Ilustração de Maria João Lopes

Alexandra Justino
A cidade e as serras - Eça de Queirós

Helena Ramos
O homem que plantava árvores - Jean Gionno

Helena Machado
Poema da árvore - António Gedeão

A Cecília leu-nos um texto seu
Os mistérios do outono
Aqui está o blog:
As coisas malucas da Sissi

Helena Policarpo
O bosque chileno
Confesso que vivi - Pablo Neruda

António
Para Walt Whitman nos tempos do macartismo - Alexandre O´Neill

Curiosidade:
Sabem que a biblioteca do Alexandre O`Neill foi doada à Biblioteca Municipal de Constância, está disponível para o público e ainda não foi "tratada"?
Pode ser um passeio bonito, podem folhear-se os livros, ver anotações que provavelmente nunca ninguém leu, encontrar inéditos, ver imensos livros autografados pelos próprios autores... enfim... pode ser uma aventura


Atenção NÃO CLIQUES AQUI


Paula
A árvore generosa - Shel Silverstein

Daniel
A floresta - Sophia de Mello Breyner Andresen

O Augusto leu-nos um poema de sua autoria
O que digo na floresta quando o meu amor me dói

Fernando
A selva - Ferreira de Castro

Virgínia
O físico prodigioso - Jorge de Sena

A Cristina falou-nos do Chico Mendes através das palavras de
Zuenir Ventura

Um herói trágico

O país que produziu alguns dos mitos olímpicos e dionisíacos do século XX - Pelé, Tom Jobim, Ayrton Senna, Ronaldo - criou também um herói trágico e transformou-o no proto-mártir da causa ecológica, um homem que precisou morrer para ser conhecido em sua pátria, ele que já era, como escreveu o New York Times, “um símbolo de todo o planeta”.

De fato, o seringueiro Chico Mendes foi quem mobilizou não só o Brasil, mas também o mundo para a defesa da floresta amazônica, à qual acabaria dando sua vida. Certo de que estava marcado para morrer, ele não só denunciou a trama, como achava que morreria em vão. “Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta, até que valeria a pena. Mas ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia. Quero viver”.

Ele disse isso e pouco depois, às 18h45 do dia 22 de dezembro de 1988, foi assassinado, aos 44 anos, na porta da cozinha de sua casa em Xapuri, uma pequena cidade de cinco mil habitantes no estado amazônico do Acre. “Ele vinha com as mãos na cabeça, todo vermelho de sangue”, contou Ilzamar, que ouviu um estouro e correu para o marido. “Quando eu quis pegar no seu braço, ele caiu e ficou se debatendo. Aí vi que estava morrendo”.

(...)O autor confesso do disparo, Darci, era filho de Darli Alves da Silva, o fazendeiro mandante do crime.

Só então e diante da grande repercussão internacional, é que o Brasil começou a desconfiar, cheio de culpa, de que tinha perdido o que se custa tanto a construir: um verdadeiro líder.

Como um Gandhi dos trópicos, Chico organizou pacificamente os seringueiros para lutar pela preservação da floresta, que vinha sendo derrubada no Acre desde a década de 70 para dar lugar às grandes pastagens de gado. O movimento de resistência usava uma tática simples e eficaz: o empate, que consistia em impedir os desmatamentos, colocando os seringueiros, seus filhos e mulheres, todos desarmados, entre os peões armados de serras e as árvores.

Também hábil político e homem de diálogo, Chico conseguiu desfazer uma inimizade histórica entre seringueiros e índios. que sob sua influência se aliaram numa grande frente conhecida pelo nome de Povos da Floresta. Condecorado pela ONU e respeitado pelas organizações internacionais de proteção ao meio ambiente, Chico demonstrou que era possível promover um desenvolvimento racional para a floresta amazônica, sem transformá-la em santuário intocável, mas também sem devastá-la.

(...)

Chico sabia que precisava de aliados, não podia ficar isolado em Xapuri lutando contra poderosos interesses de fazendeiros e pecuaristas. Alguns antropólogos e representantes de entidades ambientalistas dos Estados Unidos e da Europa se encarregaram de projetá-lo no circuito internacional.

Em 1987, ele foi o primeiro brasileiro a receber o prêmio Global 500 das Nações Unidas, em Londres. No ano seguinte foi convidado a participar da reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

(...)

A fama que ele alcançara junto a instituições e entidades estrangeiras, o seu carisma, tudo isso aliado aos incômodos empates que organizava em Xapuri, devem ter dado a seus inimigos a certeza de que a única maneira de barrar sua ação catalisadora era a morte.

Por isso ele sabia que ia ser assassinado e denunciou incansavelmente a ameaça. “Não quero flores no meu enterro, pois sei que vão arrancá-las da floresta”, escreveu no dia 5 de dezembro numa mensagem-despedida. “Quero apenas que meu assassinato sirva para acabar com a impunidade dos jagunços, sob a proteção da Polícia Federal do Acre e que, de 1975 para cá, já mataram mais de 50 pessoas”.

Poucas vezes a polícia brasileira contou com uma lista tão completa de acusados, fornecida pela própria vítima. Nem isso, porém, serviu para impedir a morte anunciada.

Chico Mendes acertou quando anunciou que ia ser morto, mas errou ao achar que sua morte poderia ser inútil. Se ela não salvou a Amazônia, serviu pelo menos para intensificar o debate planetário sobre o destino da região. E mais: esse assassinato - antecedido por dezenas de execuções de outros líderes rurais - terá servido para denunciar que em um rico e extenso país ainda se mata por questões de terra.

Aquele estouro que Ilzamar ouviu chegou ao mundo todo. Nunca um tiro dado no Brasil ecoou tão longe.

Zuenir Ventura - Jornalista, ganhador do Prêmio Esso com a série de reportagens sobre Chico Mendes publicada no Jornal do Brasil, e autor de vários livros, entre os quais “Chico Mendes – Crime e Castigo”, publicado em 2003 pela editora Companhia das Letras.


Chico Mendes: crime e castigo - Zuenir Ventura

"A permanência de Chico Mendes quinze anos depois de sua morte só reforça um mistério que não consegui decifrar: como foi possível nascer e crescer no meio da floresta, num pequeno canto verde que cremos mais propício aos bichos e às plantas, um exemplar tão fecundo da espécie humana?"


EM MEMÓRIA DE CHICO MENDES

Chegam notícias do Brasil,o Chico
Mendes foi assassinado,a morte
enrola-se agora nos primeiros frios,
nem sequer a tristeza tem sentido,
a bola continua em órbita,um dia
estoira,o universo ficará mais limpo.

de Eugénio de Andrade

e por fim aqui fica a ligação para a Biblioteca da Floresta

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