O antigo Clube de Leitura em Voz Alta deu lugar ao Coro de Leitura em Voz Alta. Tem normalmente um periodicidade quinzenal e acontece na Biblioteca de Alcochete.

Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.

próxima sessão - quinta-feira, 10 março 2011




ATENÇÃO:
depois do êxito de hoje,
os textos
deverão mais uma vez ser lidos em equipa

22 fevereiro 2011 - Aprendizagem

Nesta sessão era preciso haver trabalho de equipa! E as equipas esmeraram-se! Consta que as aulas da Cristina também estão a dar bom resultado nas prestações do pessoal! Uma sessão memorável!

Equipa 1
Helena P., Isabel, António e João


O Poeta Aprendiz
Vinícius de Morais


Ele era um menino
Valente e caprino
Um pequeno infante
Sadio e grimpante
Anos tinha dez
E asas nos pés
Com chumbo e bodoque
Era plic e ploc
O olhar verde gaio
Parecia um raio
Para tangerina
Pião ou menina
Seu corpo moreno
Vivia correndo
Pulava no escuro
Não importa que muro
Saltava de anjo
Melhor que marmanjo
E dava o mergulho
Sem fazer barulho
Em bola de meia
Jogando de meia-direita ou de ponta
Passava da conta
De tanto driblar


Amava era amar
Amava Leonor
Menina de cor
Amava as criadas
Varrendo as escadas
Amava as gurias
Da rua, vadias
Amava suas primas
Com beijos e rimas
Amava suas tias
De peles macias
Amava as artistas
Das cine-revistas
Amava a mulher
A mais não poder
Por isso fazia
Seu grão de poesia
E achava bonita
A palavra escrita
Por isso sofria
De melancolia
Sonhando o poeta
Que quem sabe um dia
Poderia ser
Pode ser visto aqui... mas não é a mesma coisa!

Equipa 2
Paula e Daniel

Um trabalho que fundiu dois diários: "Diário inventado de um menino já crescido" de José Fanha e "Diário" de Sebastião da Gama. [Paula, quando puderes deixa-mo, para o transcrever para aqui]

Equipa 3
Mariana e Cecília

Devido a problemas técnicos a equipa sofreu por falta de comunicação. O texto foi de Sandra Lima.

Equipa 4
Lena R. e Fernando (e Cristina, mas ela não sabia!)

Uma viagem ao tempo da escola? E uma surpresa para a Cristina que teve que ler de improviso! Dizem as más línguas que no fim a Lena acabou por ficar emocionada porque a Alexandra ficou emocionada e...
B-A-BA B-E-BE BA BE B-I-BI BA BE BI B-O-BO BA BE BI BO B-U-BU BA BE BI BO BU

Verbo Ser
Carlos Drummond de Andrade

Que vai ser quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os 3. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, outro corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Doi? É bom? É triste?

Ser: pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas. Ser, ser, ser. Er. R. Repito: Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a?
Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer.

Arte Poética V
Sophia de Mello Breyner

(Aqui podem ouvir a Cristina!)

Na minha infância, antes de saber ler, ouvi recitar e aprendi de cor um antigo poema tradicional português, chamado Nau Catrineta. Tive assim a sorte de começar pela tradição oral, a sorte de conhecer o poema antes de conhecer a literatura.
Eu era de facto tão nova que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais ao universo, que eram a respiração das coisas, o nome deste mundo dito por ele próprio. Pensava também que, se conseguisse ficar completamente imóvel e muda em certos lugares mágicos do jardim, eu conseguiria ouvir um desses poemas que o próprio ar continha em si. No fundo, toda a minha vida tentei escrever esse poema imanente. E aqueles momentos de silêncio no fundo do jardim ensinaram-me, muito tempo mais tarde, que não há poesia sem silêncio, sem que se tenha criado o vazio e a despersonalização. Um dia em Epidauro – aproveitando o sossego deixado pelo horário do almoço dos turistas - coloquei-me no centro do teatro e disse em voz alta o princípio de um poema. E ouvi, no instante seguinte, lá no alto, a minha própria voz, livre, desligada de mim.
Tempos depois, escrevi estes três versos:

A voz sobe os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por não ser já minha.




Equipa 5
Alexandra F., Alexandra J. e Ana Rita

Ler doce Ler
José Jorge Letria

A sinopse fica aqui

Equipa 6
Rodrigo, Virgínia e Paulo

 Aqui a versão original.
Lídia
Anaquim

Quem te falou em escolhas certas

Mentiu-te
Quem te apontou caminho sem os percorrer
Quem te mostrou suas aguarelas
Nas telas pintadas por uma só forma de ver

Quem te falou numa verdade
Enganou-te
Há mais verdades escondidas por ai
Somos voláteis
Somos feitos de contrários
Somos todos santos
Somos todos mercenários

Sacrifico
Minha vontade
Por um tiro no escuro
Que nos deixa sós

Custa ver que na realidade
O tiro não foi no escuro
O tiro foi em nós

Não pretendo
Não fazer erros
Vou aprendendo com o mal que trago em mim
E se aprendo
Sinto-me gente
E só é gente quem consegue ser assim

Alguém
Que vendo o mal nunca está bem
Que vendo o mal nunca está bem
Que vendo o mal nunca está bem(2x)

Alguém disse
Que a vida passa a correr
E eu fui na corrida sem sequer me aperceber

Alguém disse
Que a vida passa a correr
E eu fui na corrida sem parar para abastecer

A vida são dois dias
Disse um homem já maduro
Tive o ontem e o hoje
O mais certo é não ter futuro

O velho do Restelo
Diz que a vida são dois dias
E entre o choro e o riso
Eu não deixei horas vazias

Lídia enlaçemos as mãos
Vamos ficar então
Somente a ver passar o rio

Lídia jogemos xadrez
Façamos isso em vez
De dar à guerra o nosso rio

Lídia sejamos alheios
Aos desgostos feios de quem já não quer quem tem

Mas Lídia eu sinto-me vazio
Ao ver passar o rio
Sem te ter nem fazer por ser

Alguém
Que vendo o mal nunca está bem
Que vendo o mal nunca está bem
Que vendo o mal nunca está bem

Alguém
Cuja maldição afinal
Está nessa fraqueza carnal
De querer o bem e ter o mal



As Equipas 7 e 8 jogaram individualmente... então, e porque não?

Helena M.

Do livro Deixa que te conte de Jorge Bucay, a história do "elefante acorrentado".


Augusto

Para uma antologia do dizer de José Jorge Letria ("Não quero deixar de ser aprendiz")


Equipa 9
Cristina e Fernando

Uma pedra no meio do caminho é uma coisa boa? O Fernando parecia achar que sim... Ou uma pedra no meio do caminho é uma coisa má? Acho que a Cristina estava mais para aqui...

E sim,... no pelourinho havia uma pedra no meio do caminho... mas havia quem já não se lembrasse!


No meio do caminho
Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

o CLeVA é um espectáculo (título provisório)

foi o nome escolhido pela maioria, para o nosso espectáculo de dia 30 de Abril

novidades


O nosso blog tem agora um novo "visual". Já repararam? Temos direito a logotipo e tudo!

O "homem-livro" é uma oferta do pintor Américo Prata ao CLeVA.


Porque alguns de nós precisam destas coisas, aqui ficam as referências da cor:
Pantone 470C; RGB (155,79,25); Hex (#9b4f19)

... só ficou um bocadinho!

Aqui fica a receita base do bolo de maçã e nozes da Cristina (que na receita original nem leva maçã, nem leva nozes!).

200 g de manteiga
uma pitada de sal
4 colheres de chá de gengibre em pó
4 colheres de chá de canela
1 colher de chá de cravinho moído
1/2 colher de chá de pimenta preta
1/2 colher de chá de noz moscada moída
150 g de açúcar mascavado
3 ovos
200 g de farinha
manteiga q.b. para untar a forma

Pré-aquecer o forno a 160ºC.

Aquecer a manteiga numa caçarola. Misturar o sal, o gengibre, a canela, o cravinho, a pimenta e a noz moscada com o açúcar mascavado e a manteiga derretida.

Bater os ovos e adicionar ao preparado de especiarias.

Adicionar a farinha aos poucos e bater até a massa ficar com uma consistência macia.

Untar uma forma de bolo e encher com a mistura. Colocar numa posição apenas um pouco abaixo do centro do forno e deixar cozer durante cerca de 1 hora e 15 minutos. Deixar arrefecer na forma.

mais sugestões


A última oportunidade para ver ou rever este espectáculo (entrada livre)



Como lá chegar? (direcção a partir de Alcochete)
Museu do Oriente - Avenida Brasília, Doca de Alcântara (Norte)
1350-352 Lisboa

Vimos o espectáculo anterior e adorámos, vamos tentar ver este também.
Os Danças Ocultas são do melhor que se faz neste país em termos musicais.

próxima sessão - 22 fevereiro 2011


ATENÇÃO:
os textos para este tema deverão ser lidos em equipa

e como se vai chamar o nosso espectáculo?

estas são para já as sugestões:

o CLeVA é um espectáculo (título provisório)

a Poesia está na rua

o CLeVA vai ao espectáculo

o CLeVA, As Palavras


Ainda podem fazer sugestões.
Na próxima sessão iremos a votos.

puxa que puxa larga que larga

vem ao baile baile baile e vais ver o que é bailar


8 fevereiro 2011 - consciência

C O N S C I Ê N C I A

Os textos desta sessão tinham que ser memorizados. O tema também era apropriado ao esforço consciente da memorização.

Cristina

Brincava a Criança (Fernando Pessoa)
Brincava a criança
Com um carro de bois.
Sentiu-se brincando
E disse, Eu sou dois!

Há um a brincar
E há outro a saber,
Um vê-me a brincar
E outro vê-me a ver.

Estou por trás de mim
Mas se volto a cabeça
Não era o que eu qu'ria
A volta não é essa...

O outro menino
Não tem pés nem mãos
Nem é pequenino
Não tem mãe ou irmãos.

E brinca comigo
Por trás de onde eu estou,
Mas se volto a cabeça
Já não sei o que sou.
Paulo

Caldeirada, de Alberto Janes (aqui pode ouvir-se cantado pela Amália Rodrigues; no blogue o cantigueiro, esta e outras músicas de intervenção)
Em vésperas de caldeirada, o outro dia,

Já que o peixe estava todo reunido,
Teve o goraz a ideia de falar à assembleia,
No que foi muito aplaudido

Camaradas: principia a ordem do dia!
É tudo aquilo que for poluição,
Porque o homem, que é um tipo cabeçudo,
Resolveu destruir tudo, pois então!

E com tal habilidade e intensidade
Nas fulguranças do génio,
Que transforma a água pura numa espécie de mistura,
Que nem tem oxigénio

E diz ele que é o rei da criação!
As coisas que a gente lhe ouve e tem que ser!
Mas a minha opinião, diz o pargo capatão,
Gostava de lha dizer!

Pois se a gente até se afoga!
Grita a boga, por o homem ter estragado o ambiente!
Dar cabo da criação, esse pimpão,
Isso não é decente!

Diz do seu lugar: tá mal!, o carapau,
Porque, por estes caminhos,
Certo vamos mais ou menos ficando todos pequenos,
Assim como “jaquinzinhos”

Diz então o camarão, a certa altura:
Mas o que é que nós ganhamos por falar?
Ó seu grande camarão, pergunta então o cação,
Você nem quer refilar?

Se quer morrer, diz a lula toda fula,
Com a mania da cerveja e dos cafézes,
Morra lá à sua vontade, que assim seja!,
Para agradar aos fregueses!

Diz nessa altura a sardinha prá tainha:
Sabe a última do dia? A pescadinha, já louca,
Meteu o rabo na boca,
O que é uma porcaria!

Peço a palavra! gritou o caranguejo,
Eu, que tenho por mania observar,
Tenho estudado a questão e vejo a poluição
Dia e noite a aumentar

Cai do céu a água pura
E a criatura pensa que aquilo que é dele é monopólio.
Vai a gente beber dela e a goela
Fica cheia de petróleo!

A terra e o mar são para o cidadão
Assim como o seu palácio.
Se um dia lhe deito o dente
Pago tudo de repente ou eu não seja crustáceo!

É um tipo irresponsável, grita o sável,
O homem que tal aquele!
Vai a proposta prá mesa: ou respeita a natureza,
Ou vamos todos a ele!
 Virgínia

Diz-me companheiro (Letra: B. Brecht / Pedro Osório; aqui versão musical de Pedro Osório pelo Grupo Outubro)
Diz-me companheiro
Pra que serve a bondade
Se os bondosos forem sempre perseguidos
Forem presos, torturados, abatidos
E se a vida for roubada
Aos humildes a quem a bondade é destinada

Não basta ser bondoso
É preciso construir o homem novo
O mundo novo
Onde já não seja necessária a caridade
E ninguém defenda o valor da humildade

Diz-me companheiro
Pra que serve a liberdade
Quando os homens que são livres estão cercados
Por irmãos que continuam explorados
Quando os homens têm medo
De perder a liberdade pela manhã cedo

Não basta ser livre
É preciso construir o homem novo
O mundo novo
Onde a liberdade já não seja discutida
E por ser de todos nunca mais seja perdida

Diz-me companheiro
Pra que serve a justiça
Quando só quem não é justo pode ter
O que todos necessitam pra viver
E a justiça oficial
Acha bem o que sabemos todos que está mal

Não basta ser justo
É preciso construir o homem novo
O mundo novo
Onde quem for justo nunca seja condenado
E quem for injusto venha sempre a ser culpado.
O Rodrigo trouxe um excerto do capítulo IV de Varjak - o fora da lei (Varjak sonha)

João

De Karl Marx, in A ideologia Alemã
A consciência é um produto social e assim será enquanto existirem homens em geral
A Isabel não esteve presente, mas o João foi seu porta-voz
Feliz aquele cuja consciência não o acusa
O António deve às insónias o magnífico texto de sua autoria que nos trouxe
TER OU NÃO TER

Será que terei consciência
De ter a consciência
De que tenho consciência?

Ou, pelo contrário,
Será que terei consciência
De ter a consciência
De que não tenho consciência?

Se assim for, calar-me-ei para sempre.
Conscientemente!

Alcochete, 2011-02-08
António Soares
Helena P.

De Sophia de Mello Breyner
Esgotei o meu mal, agora

Queria tudo esquecer, tudo abandonar
Caminhar pela noite fora
Num barco em pleno mar.

Mergulhar as mãos nas ondas escuras
Até que elas fossem essas mãos
Solitárias e puras
Que eu sonhei ter.
Mariana
A consciência é como um espelho: às vezes embacia
A Cecília foi ao Reiki Universal buscar duas frases breves sobre a consciência
A consciência é uma janela através da qual nos é permitido ver tudo
O pior de todos os defeitos é não ter consciência deles
A Alexandra J. trouxe-nos "Asas" de José Fanha (um poema de 1985 in Cartas de Marear)
Nós nascemos para ter asas meus amigos.
Não se esqueçam de escrever por dentro do peito: nós nascemos para ter asas.
No entanto, em épocas remotas vieram com dedos pesados de ferrugem para gastar as nossas asas assim como se gastam tostões.
Cortaram-nos as asas como se fôssemos apenas operários obedientes, estudantes atenciosos, leitores ingénuos de notícias sensacionais, gente pouca, pouca e seca.
Apesar disso, sábios, estudiosos do arco-íris e de coisas transparentes, afirmam que as asas dos homens crescem mesmo depois de cortadas, e, novamente cortadas de novo voltam a ser.
Aceitemos essa hipótese, apesar de não termos dela qualquer confirmação prática.
Por hoje é tudo. Abram as janelas. Podem sair.
Da Alexandra F. uma frase de autor desconhecido
Às vezes, lavando as mãos, sujamos a consciência
A Paula trouxe a adaptação de um poema de Vitor Hugo
O homem pensa.

A mulher sonha.
Pensar é ter cérebro.
Sonhar é ter na fronte uma auréola.

O homem é um oceano.
A mulher é um lago.
O oceano tem a pérola que embeleza.
O lago tem a poesia que deslumbra.

O homem é a águia que voa.
A mulher, o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço.
Cantar é conquistar a alma.

O homem tem um farol: a consciência.
A mulher tem uma estrela: a esperança.
O farol guia.
A esperança salva.

Enfim, o homem está colocado onde termina a terra.
A mulher, onde começa o céu!!!
L'homme et la femme

L'homme est la plus élevée des créatures; la femme est le plus sublime des idéaux.

Dieu a fait pour l'homme un trône; pour la femme un autel.
Le trône exalte; l'autel sanctifie.

L'homme est le cerveau, la femme le coeur.
Le cerveau fabrique la lumière; le coeur produit l'Amour. La lumière féconde; l'amour ressuscite.

L'homme est fort par la raison; la femme est invincible par les larmes.
La raison convainc; les larmes émeuvent.

L'homme est capable de tous les héroïsmes; la femme de tous les martyres.
L'héroïsme ennoblit; le martyre sublime.

L'homme a la suprématie; la femme la préférence.
La suprématie signifie la force; la préférence représente le droit.

L'homme est un génie, la femme un ange.
Le génie est incommensurable; l'ange indéfinissable.

L'aspiration de l'homme, c'est la suprême gloire;
l'aspiration de la femme, c'est l'extrême vertu.

La gloire fait tout ce qui est grand; la vertu fait tout ce qui est divin.

L'homme est un Code; la femme un Evangile.
Le Code corrige; l'Evangile parfait.

L'homme pense; la femme songe.
Penser, c'est avoir dans le crâne une larve;
songer, c'est avoir sur le front une auréole.

L'homme est un océan; la femme est un lac.
L'Océan a la perle qui orne; le lac, la poésie qui éclaire.

L'homme est un aigle qui vole; la femme est le rossignol qui chante.
Voler, c'est dominer l'espace; chanter, c'est conquérir l'Ame.

L'homme est un Temple; la femme est le Sanctuaire.
Devant le Temple nous nous découvrons; devant le Sanctuaire nous nous agenouillons.

Enfin: l'homme est placé où finit la terre; la femme où commence le ciel.

O Daniel também disse o que lhe ia na alma:
A minha consciência diz-me que se me aplicasse mais, teria melhores resultados
A Mila trouxe um poema de Fernando Sylvan (de Timor)
Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de meninas e meninos
a defender a liberdade de armas na mão.

Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de cadaveres de meninos e meninas
que morreram a defender a liberdade de armas na mão.

Todos já vimos!
E então?
O Fernando coloriu a consciência 
A consciência era verde e um burro comeu-a.
As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis. Elas desejam ser olhadas de azul (Manoel de Barros)
(já alguma fizeram esta experiência? escrever o nome de uma cor com uma cor diferente não é fácil!)

A Helena R. trouxe de Ruy Belo "To Helena" (só as duas últimas estrofes... o resto fica para saborearem aqui)
Acabo de inventar um novo advérbio: helenamente
A maneira mais triste de se estar contente
a de estar mais sozinho em meio de mais gente
de mais tarde saber alguma coisa antecipadamente
Emotiva atitude de quem age friamente
inalterável forma de se ser sempre diferente
maneira mais complexa de viver mais simplesmente
de ser-se o mesmo sempre e ser surpreendente
de estar num sítio tanto mais se mais ausente
e mais ausente estar se mais presente
de mais perto se estar se mais distante
de sentir mais o frio em tempo quente
O modo mais saudável de se estar doente
de se ser verdadeiro e revelar-se que se mente
de mentir muito verdadeiramente
de dizer a verdade falsamente
de se mostrar profundo superficialmente
de ser-se o mais real sendo aparente
de menos agredir mais agressivamente
de ser-se singular se mais corrente
e mais contraditório quanto mais coerente
A via enviesada para ir-se em frente
a treda actuação de quem actua lealmente
e é tão impassível como comovente
O modo mais precário de ser mais permanente
de tentar tanto mais quanto menos se tente
de ser pacífico e ao mesmo tempo combatente
de estar mais no passado se mais no presente
de não se ter ninguém e ter em cada homem um parente
de ser tão insensível como quem mais sente
de melhor se curvar se altivamente
de perder a cabeça mas serenamente
de tudo perdoar e todos justiçar dente por dente
de tanto desistir e de ser tão constante
de articular melhor sendo menos fluente
e fazer maior mal quando se está mais inocente
É sob aspecto frágil revelar-se resistente
é para interessar-se ser indiferente
Quando helena recusa é que consente
se tão pouco perdoa é por ser indulgente
baixa os olhos se quer ser insolente
Ninguém é tão inconscientemente consciente
tão inconsequentemente consequente
Se em tantos dons abunda é por ser indigente
e só convence assim por não ser muito convincente
e melhor fundamenta o mais insubsistente
Acabo de inventar um novo advérbio: helenamente
O mar a terra o fumo a pedra simultaneamente
A Helena M. trouxe duas frases
Há no fundo das almas um princípio inato de justiça e de virtude, com o qual nós julgávamos as nossas ações e as dos outros como boas ou más; e é a este princípio que dou o nome de consciência 
(in Émile: ou de l'education - Volume 2, Página 350, Jean-Jacques Rousseau - Bélin, 1792)
A felicidade da vida depende da serenidade da nossa consciência

os namoros da semana

da Teresa para o Daniel


da Virgínia e do Paulo para a Cristina e Fernando

um namoro "da pesada"

próxima sessão - 8 fevereiro 2011


ATENÇÃO:
os textos para este tema não serão lidos ao clube,
terão de ser ditos (sem papel).

01 fevereiro 2011 - igualdade entre raças

Igualdade entre raças? ou "todos diferentes... todos iguais". Neste site encontram-se alguns artigos interessantes sobre este tema (em inglês). Defendem que o conceito de raça é uma construção social, sem fundamento biológico: se olharmos para o genoma humano... dificilmente se encontram "raças".




Mariana

Do Jornal ALCAXETE de 23 de Setembro de 2010, um artigo da própria Mariana.



Helena P.
Do livro "A fala do Índio" de Teri McLuhan, a Helena leu um excerto do discurso do Chefe Dan George por ocasião do centenário do Canadá.


Desde quando nos conhecemos nós, ó Canadá...



António
Ainda do mesmo livro o António seleccionou um outro excerto:


Se nos rendermos morreremos



João
Porque foi dia de grandes oradores, o João trouxe um excerto do Discurso Inaugural de Nelson Mandela.




Augusto
Trouxe mais um homem de vulto: Martin Luther King. Um excerto do discurso, extraído do livro 50 grandes discursos da História. Também podem ver aqui o discurso "I have a Dream" (eu tenho um sonho...) em video.



Fernando
(... mais uma sessão em que o fotógrafo ficou apenas atrás da objectiva)

de Manoel de Barros, excertos... com muitas, muitas raças!


"Sapo nu tem voz de arauto"
"Os grilos de olhos sujos se criam nos armazéns."
"Bicho acostumado na toca encega com estrela"
"Ovo de lobisomem não tem gema."
"Sapos com rio atrás da casa atraem borboletas amarelas"
"Vagalumes driblam a treva."
"Minhocas arejam a terra, poetas a linguagem"

Daniel
Trouxe-nos o Daniel, "Cores que se Amam" de Paco Abril, com ilustrações de Anne Decis


"havia uma mulher de cor deitada no chão. De que cor seria? Não sei porquê, mas imaginei-a verde!"



Helena M
Lágrima de preta de António Gedeão



Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

A versão cantada aqui ... e aqui outra versão por Adriano Correia de Oliveira.




Isabel
Também um excerto de um discurso de Nelson Mandela



Ao avaliarmos a nossa evolução como indivíduos, costumamos concentrar-nos em factores externos, como a posição social de uma pessoa(...) mas os factores internos podem ser ainda mais importantes na avaliação da evolução de uma pessoa como ser humano: a honestidade, a sinceridade, a simplicidade, a humildade, a integridade, a generosidade, a ausência de vaidade, a disponibilidade para ajudar os nossos concidadãos são qualidades ao alcance de todas as almas.




Alexandra F.
Do livro "Contos Negros para os Filhos dos Brancos" de Blaise Cendrars, a Alexandra trouxe-nos a hitória de uma árvorezinha irreverente que decide abandonar a floresta, mas é impiedosamente perseguida por uma rã! Vale a pena dar uma olhadela a história deste escritor, que perdeu o braço direito na I Grande Guerra, e que privou com grandes nomes da sua época.



Helena R.
Depois de lutar com o tema vários dias, cheguei à conclusão que só somos verdadeiramente iguais depois de morrer...

De Vinicius de Morais, "A Hora Íntima" (aqui pelo próprio, e aqui links para excertos do filme-documentário)



Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?

Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: – Nunca fez mal...
Quem, bêbedo, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: – Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: – Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançará um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: – Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: – Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?

Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?




Mila
Trouxe de José Craveirinha: "Ao meu belo pai ex-emigrante"



Pai:
As maternas palavras de signos
vivem e revivem no meu sangue
e pacientes esperam ainda a época de colheita
enquanto soltas já são as tuas sentimentais
sementes de emigrante português
espezinhadas no passo de marcha
das patrulhas de sovacos suando
as coronhas de pesadelo.

E na minha rude e grata
sinceridade não esqueço
meu antigo português puro
que me geraste no ventre de uma tombasana
eu mais um novo moçambicano
semiclaro para não ser igual a um branco qualquer
e seminegro para jamais renegar
um glóbulo que seja dos Zambezes do meu sangue.

E agora
para além do antigo amigo Jimmy Durante a cantar
e a rir-se sem nenhuma alegria na voz roufenha
subconsciência dos porquês de Buster keaton sorumbático
achando que não valia a pena fazer cara alegre
e um Algarve de amendoeiras florindo na outra costa
Ante os meus sócios Bucha e Estica no "écran" todo branco
e para sempre um zinco tap-tap de cacimba no chão
e minha Mãe agonizando na esteira em Michafutene
enquanto tua voz serena profecia paternal: - "Zé:
quando eu fechar os olhos não terás mais ninguém."

Oh, Pai:
Juro que em mim ficaram laivos
do luso-arábico Algezur da tua infância
mas amar por amor só amo
e somente posso e devo amar
esta minha bela e única nação do Mundo
onde minha mãe nasceu e me gerou
e contigo comungou a terra, meu Pai.
E onde ibéricas heranças de fados e broas
se africanizaram para a eternidade nas minhas veias
e teu sangue se moçambicanizou nos torrões
da sepultura de velho emigrante numa cama de hospital
colono tão pobre como desembarcaste em África
meu belo Pai ex-português.

Pai:
O Zé de cabelos crespos e aloirados
não sei como ou antes por tua culpa
o "Trinta-Diabos" de joelhos esfolados nos mergulhos
à Zamora nas balizas dos estádios descampados
avançado-centro de "bicicleta" à Leónidas no capim
mortífera pontaria de fisga na guerra aos gala-galas
embasbacado com as proezas do Circo Pagel
nódoas de cajú na camisa e nos calções de caqui
campeão de corridas no "xituto" Harley-Davidson
os fundilhos dos calções avermelhados nos montes
do Desportivo nas gazetas à doca dos pescadores
para salvar a rapariga Maureen O'Sullivan das mandíbulas
afiadas dos jacarés do filme de Trazan Weissmuller
os bolsos cheios de tingolé da praia
as viagens clandestinas nas traseiras gã-galhã-galhã
do carro eléctrico e as mangas verdes com sal
sou eu, Pai, o "Cascabulho" para ti
e Sontinho para minha Mãe
todo maluco de medo das visões alucinantes
de Lon Chaney com muitas caras.

Pai:
Ainda me lembro bem do teu olhar
e mais humano o tenho agora na lucidez da saudade
ou teus versos de improviso em loas à vida escuto
e também lágrimas na demência dos silêncios
em tuas pálpebras revejo nitidamente
eu Buck Jones no vaivém dos teus joelhos
dez anos de alma nos olhos cheios da tua figura
na dimensão desmedida do meu amor por ti
meu belo algarvio bem moçambicano!

E choro-te
chorando-me mais agora que te conheço
a ti, meu pai vinte e sete anos e três meses depois
dos carros na lenta procissão do nosso funeral
mas só Tu no caixão de funcionário aposentado
nos limites da vida
e na íris do meu olhar o teu lívido rosto
ah, e nas tuas olheiras o halo cinzento do Adeus
e na minha cabeça de mulatinho os últimos
afagos da tua mão trémula mas decidida sinto
naquele dia de visitas na enfermaria do hospital central.

E revejo os teus longos dedos no dirlim-dirlim da guitarra
ou o arco da bondade deslizando no violino da tua aguda tristeza
e nas abafadas noites dos nossos índicos verões
tua voz grave recitando Guerra Junqueiro ou Antero
e eu ainda Ricardino, Douglas Fairbanks e Tom Mix
todos cavalgando e aos tiros menos Tarzan analfabeto
e de tanga na casa de madeira e zinco
da estrada do Zichacha onde eu nasci.

Pai:
Afinal tu e minha mãe não morreram ainda bem
mas sim os símbolos Texas Jack vencedor dos índios
e Tarzan agente disfarçado em África
e a Shirley Temple de sofisma nas covinhas da face
e eu também e que musámos.

E alinhavadas palavras como se fossem versos
bandos de sécuas ávidos sangrando grãos de sol
no tropical silo de raivas eu deixo nesta canção
para ti, meu Pai, minha homenagem de caniços
agitados nas manhãs de bronzes
chorando gotas de uma cacimba de solidão nas próprias
almas esguias hastes espetadas nas margens das úmidas
ancas sinuosas dos rios.

E nestes versos te escrevo, meu Pai
por enquanto escondidos teus póstumos projectos
mais belos no silêncio e mais fortes na espera
porque nascem e renascem no meu não cicatrizado
ronga-ibérico mas afro-puro coração.
E fica a tua prematura beleza realgarvia
quase revelada nesta carta elegia para ti
meu resgatado primeiro ex-português
número UM Craveirinha moçambicano

!




Cristina
Da "Árvore das Palavras" de Teolinda Gersão um excerto




Alexandra J.
Sem plano A nem B... salvou-a o namoro do outro dia: leu um excerto do livro "Encontrei o Principezinho" de Jorge Cabral dos Santos



Cecília
Também um excerto de um livro, desta feita sobre a II Guerra Mundial: "A bela Senhora Seidenman" de Andrej Szczypiorski



Ana Rita
Do livro "A voz igual - Ensaios sobre Agostinho Neto", a Ana Rita leu "Poema para todos"



Para quê chorar
porque esperamos
que outros venham consolar?

Para quê querer uma ilusão
para apagar uma mentira?
o choro cansou o mundo
e a nós mesmo já causa tédio
e quando julgamos que o riso é choro
ele é riso simplesmente
porque já nem sabemos lamentar

Mas olha a tua volta
abre bem os olhos
-vês?

Aí está o mundo
construamos.


Um carnaval de Alexandre O´Neill

os namoros livrescos continuam em bom ritmo


A Cristina passou a A Última Viagem do Navio Fantasma de Gabriel García Márquez, à Helena Ramos, que por sua vez passou ao António a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, que por sua vez passou à Mariana, Os novos contos do gin, de Mário-Henrique Leiria.