O antigo Clube de Leitura em Voz Alta deu lugar ao Coro de Leitura em Voz Alta. Tem normalmente um periodicidade quinzenal e acontece na Biblioteca de Alcochete.

Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.

Camões - sessão especial



Esta sessão especial do CLeVA realizou-se no Museu da Rádio e Televisão





















Muito obrigado à Rosário Vivaldo que tão bem nos guiou nesta visita.


O desafio era o seguinte:
os textos terão obrigatoriamente de ser preparados em grupo
não poderão ser propositadamente escritos para o tema
deverão ser apresentados como fossem um anúncio de rádio
não poderão exceder 1 minuto

aqui estão os resultados:

Graciete, Helena, Fernanda e Cristina



António, Cíntia, Anabela, Adília e Fernando



Eugénia e Antónia



Conceição e Manuel



Ana Paula, Ana Maria e Cristina



Helena e Miguel




próxima sessão - 15 dezembro - sessão especial

será o tema

atenção: 

a sessão realizar-se-á no Museu da Rádio, às 15h00

os textos terão obrigatoriamente de ser preparados em grupo
não poderão ser propositadamente escritos para o tema
deverão ser apresentados como fossem um anúncio de rádio
não poderão exceder 1 minuto

Magia



A Cristina começou por aconselhar a leitura do livro "A intuição leitora, a intenção narrativa" de Rodolfo Castro


Leituras do tema:

Cristina e Fernando
O jovem mágico de Mário Cesariny

O jovem mágico das mãos de ouro
que a remar não se cansa muito
e olha muito depressa (como se fosse de moto)
veio hoje ficar a minha casa

Vivia longe longe já se sabia
tão longe que era absurdo querer determinar
metade campo metade luz
aí era a sua casa o sítio onde era longe

mesmo de olhos fechados (como ele estava)
e de braços cruzados (como parecia dormir)
o jovem mágico das mãos de ouro
que era todo de empréstimo à minha noite

que falou por acaso que nem se chamava assim
(segundo também contou) tinha vivido há muito
ele, que estava ali, era um falsário
um fugido de outro basta ver os meus olhos

nada sabemos de nós a não ser que chegámos
sem uma luz a esconder-nos o rosto
belos e apavorados de estranhos casacos vestidos
altos de meter medo às aves de longo curso

nem há noites assim não há encontros
ao longo das enseadas
não há corpos amantes não há luzeiros de astros
sob tanto silêncio tão duradoura treva

e não me fales nunca eu sou surdo eu não te oiço
eu vou nascer feliz numa cidade futura
eu sei atravessar as fronteiras das coisas
olha para as minhas mãos que te pareço agora?

No entanto surgiu como simples criança
conseguia sorrir sentar-se verter águas
com as mãos na cintura livre natural
ele que era um fantasma um fugido de outro

um que nem mesmo se chamava assim
o jovem mágico das mãos de ouro
desaparecido nu de todos os sítios da terra


Cristina, Graciete, Helena e Fernanda

Introdução (Fernanda)
Falar de magia lança-nos de imediato para os truques dos mágicos, o fazer aparecer e desaparecer coisas ou pessoas, para a envolvência própria dos castelos e das fadas, para o fantástico que nos faz imaginar e, despertar, para outras vivências, outros mundos…
Goethe disse um dia: “Seja qual for o seu sonho, comece. Ousadia tem genialidade, poder e magia”
E é esta magia que nos faz vibrar, apreciar a vida, querer mais e mais para chegar mais longe!
Nós quisemos trazer-vos a magia de coisas variadas, perspetivada de um outro modo, a magia do dia, a magia da noite, a magia existente nos fenómenos da natureza, a magia que teima em vingar dentro de nós. A Magia existe em toda a parte, basta estarmos atentos!
E revendo poetas cientistas como António Gedeão e João Barbosa, procurámos alguns desses belos poemas onde se “vê” a interseção entre a poesia, a ciência e toda a sua magia.
Para começar, vamos ouvir o poema “Noite” de João Barbosa, dito pela Cristina:

NOITE

Quando o dia se faz noite
a luz desaparece?
Apenas adormece.

Põe-se o Sol no seu poente
mas tudo isso é aparente
pois, ao Sol, noutros países
brincam crianças felizes…

E quando o dia se faz noite
não é dia nem é noite
ou meia noite, meio dia,

são momentos de Poesia…

Isto eleva-nos a uma outra dimensão: a do mistério e/ou a da magia.
Selecionámos um poema ilustrativo dessas dimensões – pensamos nós – e que nos transporta à magia da evasão pessoal. O Poema é “Aurora Boreal” incluído no livro "Teatro do Mundo" de António Gedeão. Vamos ouvi-lo:

AURORA BOREAL

Tenho quarenta janelas
Nas paredes do meu quarto. ----------------- Helena
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas ----------------------- Graciete
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
Por aquela a luz dos homens,
Pela outra a escuridão. ------------------- Cristina
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais, ----------------- Helena
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala ---------------Fernanda
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia, ----------------------- Graciete
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes. ----------------- Helena

Oh janelas do meu quarto,
Quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
Falta-me a luz e o ar.

Continuando esta nossa visão daquilo que poderá ser a magia, vamos ouvir, uma vez mais a Cristina, mas desta vez com o poema “DIA” de João Barbosa:

DIA

Quando a noite se faz dia,
dizem que não é por magia.

Nasce o Sol no seu nascente
Mas tudo isso é aparente
- a Terra é que não dorme
no seu movimento uniforme.

Mas, digam o que disserem
Os livros d’astronomia,
Quando a noite se faz dia
E não é noite nem é dia

são momentos de Magia…






Miguel
brindou-nos com uma sessão de Mentalismo e com a ajuda de uma 'partnaire' fez-nos um Quadrado mágico


Ana Maria
Autêntica magia de Nuno Cardoso Dias



Ana Paula
excerto de "A luz é como a água" de Gabriel García Marquéz


Isabel
excerto de "Era uma vez natal outra vez" de Deolinda Pereira da Silva
de Era uma vez uma palavra mágica


Eugénia
excerto de "As fadas" de Antero de Quental


Alexandra, António, Adília e Anabela
iniciaram-nos na Magia celta com um excerto de "Magia Celta" de D.J. Conway




Antónia

Hoje não estou preparada,
não trouxe nada para vos ler,
por favor, fechem os olhos.
Não me viram desaparecer?


Helena
excerto de "O Rei do Monte Brasil"
de Ana Cristina Silva


e foi também a Helena que nos trouxe 'o livro do dia', neste caso 'os livros do dia'


de Manuel Bandeira, "Vou-me embora pra Pasárgada"
ilustrado com o poema do mesmo nome:


Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.



e de António Gedeão, "Poesias completas"
com excertos de:

Sou assim

Transcendente.
Sobre-humano.
Oh feliz de quem entende,
de quem busca e surpreende
os pontos, a recta e o plano!

Um pobre homenzinho ignaro,
com os pés colados ao mundo,
olha o alto e olha o fundo,
consegue ver tudo claro.

Deus te abençoe, meu amigo.
Deus te dê o que desejas.
Que palpes, que oiças, que vejas
o sonho que anda contigo.

Todo claro é escuro em mim.
Não tenho asas nem rabo.
Não sou Anjo nem Diabo.
Sou assim.

de Calçada de carricheLágrima de Preta e de Poema para Galileu



como não podia deixar de ser acabámos a comer e a beber

felizmente ninguém se magoou 



próxima sessão - 4 dezembro

será o tema



será responsável pelo livro do dia

Mudar de vida



já várias vezes nos tinha visitado, mas hoje declarou oficialmente querer ser membro do clube
Reiki Francisco

A Cristina começou por apresentar o livro do dia

Uma história da leitura de Alberto Manguel

e do Alberto Manguel passou naturalmente para o Jorge Luís Borges e acabámos a fazer um exercício com uma citação de Ficções, precisamente de Jorge Luis Borges e várias de Barranco de Cegos e Ensaio sobre a cegueira de Alves Redol e José Saramago, respectivamente.



O medo cega.

Gradualmente, o formoso universo foi-o abandonando; uma teimosa neblina confundiu-lhe as linhas da mão, a noite despovoou-se de estrelas, a terra era insegura sob os seus pés. Tudo se afastava e confundia. Quando soube que estava a ficar cego, gritou

O medo cega.

Uns emigram, outros pedem esmola, outros rebocam cegos por feiras e estradas (…) No fundo estão cegos todos, e, mais ainda, os que vão adiante; esses acabam por atirar com os outros para o barranco, como disse S. Mateus. (…)

O medo cega.

-O medo cega... são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos,

O medo cega.

o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos.

O medo cega.

“Deixai-os; cegos são e condutores de cegos; e se um cego guia a outro cego, ambos vêm a cair no barranco.
S. Mateus”

O medo cega.

A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.

O medo cega.

Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira.

O medo cega.

É que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos.

O medo cega.

Costuma-se até dizer que não há cegueiras, mas cegos, quando a experiência dos tempos não tem feito outra coisa que dizer-nos que não há cegos, mas cegueiras.

O medo cega.

-Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.

e ainda a propósito




e passámos às leitura:

Cíntia, Adília e Anabela
Trans-Género-Humano de Pedro de Freitas


Cristina, Fernanda, Helena e Graciete
Excertos de "Entre dois mundos" de Pedro d´Orey da Cunha


Introdução:
Mudar de vida conduz-nos a mil e uma direções: mudar de profissão, mudar de terra, mudar de país, mudar de sexo, mudar de guerra, mudar de atitudes, mudar de língua, mudar de nome, mudar de partido, mudar de religião, mudar de …
Viver entre dois mundos pode acontecer mesmo ao nosso lado, na nossa cidade, na nossa rua, na nossa casa… Os dramas do quotidiano são muitas vezes - como dizia Pedro d’Orey -  “…uma realidade possível, um homem sensível, angustiado pela apatia, pela  indiferença, pela  incapacidade de quantos olham e não veem (…) quantas crianças, quantos jovens, quantos pais, quantas mães, não vivem entre dois mundos, buscando sentido onde, por  vezes, só há alienação” 
E nós? Será que continuamos indiferentes, incapazes de ver esses dilemas? O stress domina todos aqueles que correm atrás de um futuro e não se apercebem daquilo que se passa no nosso presente, no nosso dia a dia.
 Os problemas que aqui vos trazemos são retirados do livro ENTRE DOIS MUNDOS que é dividido em capítulos: A Família; a Escola; Entre a Escola e o Trabalho; Condenados: pelos médicos; pelos professores; pelo patrão e pelos companheiros. Este livro é de Pedro d’Orey da Cunha que foi Chefe de Gabinete do Ministro da Educação entre 1987 e 1989, e exerceu o cargo de Psicólogo Conselheiro de Orientação Escolar e Profissional nos Estados Unidos, sendo um grande defensor e dinamizador  da integração das minorias – e narra  histórias reais, daqueles que deixam o seu país para irem viver no estrangeiro, com todos os problemas inerentes à adaptação a um novo país, a uma nova língua e a uma nova cultura, à  vivência diária nesse  país que adotaram, quer  dos jovens quer de seus pais mas também no sentido inverso, daqueles que tentam “compreender” os estrangeiros ou que - simplesmente -  os julgam face à sua cultura . 
Os anos -  que esses emigrantes passam nesses países -  vão interferir nos seus hábitos, nas suas culturas e até na sua própria linguagem e, é essa aculturação que faz com que o seu léxico se transforme e seja uma adaptação - tantas vezes – das duas línguas. É assim que dizem estoa em vez de store, cela para cellar que significa cave, barrum em vez de bar room que é a taberna, entre muitas outras que vão sendo substituídas por um termo intermédio.
Vamos pois ouvir três dessas histórias: em 1º lugar a Helena vai apresentar-vos “Bonito” história 29, (pág.103) que pertence ao capítulo A Escola; e em seguida, a Fernanda  apresenta-vos “Contente” história 60 ( pág. )incluída no capítulo dos condenados, aqui condenado pelos professores; e, por fim  a Cristina  apresenta-vos “Liberdade” história 6 (pág.43)  incluída no capítulo “A Família”.



Eugénia
Excerto do conto "A invenção do tempo" de Mário Domingues, do Magazine Bertrand de 1928


Ana Maria
Não me sinto mudar de Pablo Neruda

Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo

mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei. É um pouco mais de melancolia,
um pouco de tédio que me deram os homens.

Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.

As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.

Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem de mais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.

Mas num dia amargo, num dia distante
sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.

Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.

de Cadernos de Temuco
Tradução de Albano Martins


Marília
Excerto de "O pastor amoroso" de Alberto Caeiro

O pastor amoroso perdeu o cajado,
E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,
E, de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe para tocar.
Ninguém lhe apareceu ou desapareceu... Nunca mais encontrou o cajado.
Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as ovelhas.
Ninguém o tinha amado, afinal.
Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa, viu tudo:
Os grandes vales cheios dos mesmos vários verdes de sempre,
As grandes montanhas longe, mais reais que qualquer sentimento,
A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem,
E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor, uma liberdade no peito.



Fernando
Ninguém se mexa! Mãos ao ar! de Alexandre O´Neill

«Ninguém se mexa! Mãos ao ar!», disse o histérico
e frívolo homenzinho com mais medo
da arma que empunhava que de nós.
«Mãos ao ar!», repetiu para convencer-se.

Mas ninguém se mexeu, como ele queria...
Deu-lhe então a maldade. Quase à toa,
escaqueirou o espelho biselado
que tinha as Boas Festas da gerência

escritas a sabão. Todos baixámos,
medrosos, a cabeça. Se era um louco,
melhor deixá-lo. (O barman escondera-se
por detrás do balcão). Ali estivemos
um ror de medo, até que o rabioso
virou a arma à boca e disparou.

Alexandre O'Neill
de Poesias Completas



Ana Paula
Excerto de "Memórias das minhas putas tristes" de Gabriel García Márquez



Miguel
Os pobrezinhos de António Lobo Antunes

Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres. Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida.
 Os pobres, para além de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam. Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria:
 - Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha.
 O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente». No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre. Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão:
 - Não se chegue muito que esta gente tem piolhos.
 Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto
(- Esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro)
de forma de deletéria e irresponsável. O pobre da minha Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico
 - Agora veja lá, não gaste tudo em vinho
 o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo:
 - Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeo
 Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros
 - O que é que o menino quer, esta gente é assim
 e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.
 Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse
 - Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar
 e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão.
 Na minha ideia o padre Cruz e a Saõzinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso.
 Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me. E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afecto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis.



Alexandra
falou-nos de como os livros de auto-ajuda mudaram a sua vida



e no final da noite, como ninguém fazia anos, fizemos uma festa com crumble de maçã e bolo de especiarias, acompanhados de porto e moscatel.
Brindámos ao CLeVA.











próxima sessão - 20 novembro

será o tema

será o responsável pelo livro do dia

Fidelidade (texto dramático)



Antónia
A traição do Tibério


O Tibério Malaquias
Querendo passar uns três dias
Com uma conquista qualquer
Chega a casa e entre afectos
A postos com seus projectos
Diz assim para a mulher:

Eu amanhã vou caçar
Vou uns três dias passar
Por entre matas espessas
Prepara-me o cinturão
A espingarda mais o cão
Chama-me cedo não esqueças

Logo ao romper da manhã
Sai o nosso Don Juan
Feliz cantando raias
Antevendo mil delicias
Gozar as ternas caricias
Da sua caça de saias

Finda a caçada mistério
Regressa ao lar o Tibério
Com seu cão de dois narizes
Trazendo no cinturão
Dois coelhos e um faisão
Uma lebre e dez perdizes

A mulher ao vê-lo entrar
Muito irado e a gritar
Com esta frase o desarma
Esta agora é que tem graça
Como é que mataste a caça
Se tu nem levaste a arma

O Tibério até corou
Porém não se desmanchou
E respondeu muito a custo
É que eu ao notar a falta
Gritei à caça em voz alta
E a caça morreu de susto.



Miguel Cantiga de harmonia conjugal
do livro Fala da criada dos Noailles que no fim de contas vamos descobrir chamar-se também Séverine numa noite do Inverno 1975 em Hyères 
de Jorge Silva Melo


Ana Vieira
excerto de "Agora a Sério"
de Tom Stoppard


Ana Brandão
excerto de "Frida e a casa azul: Quatro peças em um acto"
de José Jorge Letria


Fernando
excerto de "Alta Fidelidade"
tradução Maria Augusta Júdice

As minhas cinco namoradas mais memoráveis de todos os tempos, que levaria para uma ilha deserta, por ordem cronológica: 

1) Alison Ashworth 
2) Penny Hardwick 
3) Jackie Allen . 
4) Charlie Nicholson 
5) Sarah Kendrew. 

Estas foram as que doeram mais. Vês o teu nome na lista, Laura? Acho que tu até entrarias no top das dez mais, mas não há lugar para ti no top das cinco mais; esses lugares estão reservados para o tipo de humilhações e corações destroçados que tu muito simplesmente és incapaz de provocar. É provável que isto soe mais cruel do que eu desejaria, mas a verdade é que somos velhos demais para fazer a vida negra um ao outro, e isso é uma coisa boa, e não uma coisa má, portanto não consideres um fracasso o facto de não entrares na lista. Esse tempo passou, que se lixe; naquela altura, a infelicidade significava alguma coisa. Agora é só uma chatice, como uma constipação  ou não ter dinheiro. Se querias mesmo fazer-me mal, devias ter vindo mais cedo. 


Eugénia Egas Moniz
Excerto de Terra Lusa
de Teresa Leitão de Barros




Texto explicativo da peça:
Esta peça de Molière data do século XVII e foi uma das suas grandes batalhas,   pois para a conseguir pôr em cena, ele tentava ter apoio real para que a sua peça conseguisse vingar uma vez que atacava fortemente o clero e as aparências em que viviam os padres . O próprio Louis XIV aconselhava Molière a não se meter com o clero e chegou mesmo a dizer-lhe “Não irrite os devotos. São gente implacável”.
Basta referir que do momento da sua criação à sua representação decorreram cinco anos, entre 1664 e 1669.
Esta adaptação de Tartufo foi apresentada em 1969 em Madrid e a 1ªversão portuguesa foi estreada pela Companhia de Raul Solnado em 25 de Janeiro de 1972, no Teatro Villaret, em Lisboa.
Trata-se de uma comédia em cinco atos - que no seu original é em verso -  e  critica a sociedade da época, sobretudo o clero, daí  a dificuldade de ser posta em cena.


Sinopse:
Orgon, recolhe Tartufo, um falso devoto, que o domina sob a aparência de um religioso, cheio de qualidades morais. Apesar de todos os moradores da casa de Orgon lhe dizerem que Tartufo é um impostor, ele não acredita e idolatra-o  cada vez mais. Como seu filho Damis detesta e contesta, furiosamente, Tartufo, o pai expulsa-o de casa e transfere os seus bens para Tartufo, e dá-lhe a gerência dos seus negócios, pois pensa casá-lo com a sua filha Mariana. Tudo continua até ao dia em que a sua mulher Elmira o faz testemunhar, escondido, a falsidade de Tartufo. Desiludido, expulsa-o de casa mas Tartufo diz-lhe que quem vai sair não é ele pois agora é ele  o dono. Mais tarde, Tartufo aparece com um agente da polícia e pede que este cumpra o seu dever mas o agente prende-o a ele, afirmando que há muito o seguiam, no entanto, nunca tinham conseguido provas para o apanharem. Assim, todos ficam felizes e em casa regressando a harmonia inicial ao lar.
 Na peça de Tartufo há vários tipos de FIDELIDADE: de Orgon ao seu suposto amigo Tartufo; de Mariana ao seu amor Valério; de Dorina a sua prima Mariana; de Elmira a seu marido Orgon; de Cleante a seu cunhado Orgon; de Cleante a sua irmã Elmira ; de Damis a seu pai Orgon, entre outros.
 Vamos então ler-vos uma passagem da peça, as cenas V,VI e VII, do Quarto Ato, onde Elmira dialoga com Tartufo preparando-lhe uma armadilha sob o olhar atento de Orgon que se encontra escondido. Orgon sai do seu esconderijo, furioso, e expulsa Tartufo de casa mas algo vai mudar…

Personagens:
Narrador - Cristina;
Tartufo – Fernanda;
Elmira – Graciete;
Orgon – Helena






Manuel e Conceição
Fidelidade de Catarina Portela adaptado por Manuel Aguiar


Helena Nogueira
Excerto de "Piaf, nossa senhora da agonia" de José Jorge Letria
do livro "Mataram o Che e outras peças"


Marília
Excerto de "Cinza às cinzas" de Harold Pinter
de Teatro II


António, Cíntia, Anabela, Alexandra e Adília
Excerto de "Há tanto tempo" de Harold Pinter
de Teatro I


Ana Paula
Excerto de "Marley e eu" de John Grogan


a Ana Paula trouxe-nos "ir e vir" de Isabel Minhós Martins, ilustrado por Bernardo Carvalho


e por fim a Cíntia e a Ana Brandão foram escolhidas para um exercício com um excerto de "Os anjinhos" de Rui Zink



próxima sessão - 6 novembro

será o tema da próxima sessão

AVISO: Os textos da próxima sessão deverão ser de género dramático (textos escritos para serem representados)

trará o livro do dia

Maratona de Leitura

Vai decorrer na Biblioteca Escolar da Escola D. Manuel I em Alcochete, nos próximos dias 25 e 26 de outubro, entre as 8h30 e as 17h30 uma maratona de leitura.

Alireza Darvish

Quem quiser ir ler, pode inscrever-se através do tel. 212 348 730 ou do email bemanelito@gmail.com

Amor




Cristina
Avisos iniciais:

o relatório da União Europeia sobre literacia (em inglês)

O resumo do mesmo relatório (em português)

Para quem quiser pesquisar sobre a bolsa de voluntariado da leitura

De seguida fizemos leituras em grupo com os seguintes textos:


Amor como em Casa de Manuel António Pina

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.


Convida-me só para jantar de Ana Goês

Convida-me só para jantar
E não queiras depois fazer amor.

Convida-me só para jantar
num restaurante sossegado
numa mesa do canto
e fala devagar
e fala devagar
eu quero comer uma sopa quente
não quero comer mariscos
os mariscos atravancam-me o prato
e estou cansada para os afastar
fala assim devagar
devagar
não é preciso dizeres que sou bonita
mas não me fales de economia e de política
fala assim devagar
devagar
deita-me o vinho devagar
quando o meu copo já estiver vazio.

Estou convalescente
sou convalescente
não é preciso que o percebas
mas por favor não faças força em mim.
Fala, estás-me a dar de jantar
estás-me a pôr recostada à almofada
estás-me a fazer sorrir ao longe
fala assim devagar
devagar
devagar.


Se tu viesses ver-me… de Florbela Espanca

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos…a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas de um beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…


Complicadíssima teia – António Botto

Quem põe certezas na vida
Facilmente se embaraça
Na vil comédia do amor;
Não vale a pena ter alma
Porque o melhor é andarmos
Mentindo seja a quem for.

Gosto de saber que vives
Mas não perdi a cabeça
Nem corro atrás do desejo;
Quem se agarra muito ao sonho
Vê o reverso da vida
Nos movimentos de um beijo.

Ando queimado por dentro
De sentir continuamente
Uma coisa que me rala;
Nem no meu olhar o digo
Que estes segredos da gente
Não devem nunca ter fala.

Talvez não saibas que o amor
Apesar das suas leis
Desnorteia os corações;
- Complicadíssima teia
Onde se perde o bom senso
E as mais sagradas razões.


Short & Sweet de José Cutileiro

Short & sweet,
Diz o ditado:
Aroma apenas
Adivinhado.

Da tua vida
Que me ficou -
Depois das mortes,
Das enxaquecas,
Dos livros lidos,
Dos sentimentos,
Das crises místicas,
Das dores de dentes,
De tudo, tudo,
O que foi teu,
Se demorou,
Em ti viveu,
Em ti morreu,
Que me ficou?

Short & sweet,
Diz o ditado:
Foi um silêncio
Súbito dado.

Da tua vida
Que me ficou -
Dos teus amigos,
Dos teus amantes,
Dos teus orgasmos,
Da que foste antes,
Das tuas pernas,
Das tuas cartas,
De tudo, tudo,
O que foi teu,
Se demorou,
Em ti viveu,
Em ti morreu,
Que me ficou?

Short & sweet,
Diz o ditado:
O som que ouvido
Tinha passado.

Da tua vida
Que me ficou -
Depois dos risos,
Depois das lágrimas,
Das obsessões,
Compreensões,
Menstruações,
Indecisões,
De tudo, tudo,
O que foi teu,
Se demorou,
Em ti viveu,
Em ti morreu,
Que me ficou?

Short & sweet,
Diz o ditado.



e finalmente entrámos nas leituras da sessão:

Adília
Do livro "Solteiros, casados e divorciados - como perceber a cabeça dos homens" da autoria de "O Arrumadinho", autor do blog sobre relações mais lido em Portugal, extraí algumas ideias relacionadas com o tema desta semana - o Amor.

1º capítulo - Os Solteiros

1.4 - O Segredo da Felicidade

(...) É viver os dias mais miseráveis de sempre e ter a certeza de que a partir daquele momento a vida só pode correr melhor.

1.6 - A busca por «o tal»

A busca não pode ser uma busca. É importante olhar para a pessoa, para o seu interior e não para o exterior, o que está à volta dela, as suas limitações na vida. Porque essas todos temos. o importante é olhar para tudo o resto que a torna diferente dos outros.

(...) voltar a amar e a sentir vontade de construir algo sólido. Evitar os erros do passado, saber agir em determinados momentos, a estar calado ou falar no momento certo.

Hoje encontrei a «tal» pessoa que estava escrito que ficaria comigo. E tenho a certeza porque é ela que me faz querer ser perfeito, que me faz querer ir mais além em tudo, que me tira do sério com um olhar, que me faz rir às gargalhadas quando está presente e ficar miserável quando não está. A minha busca acabou. Sei que não se deve dizer isto, mas que se lixe. Secalhar senão tivesse a certeza não o diria nem escreveria.

1.7 - As primeiras borboletas

Mais do que longos beijos ternurentos e noites de sexo escaldantes, recordo as pessoas que me fizeram borboletas esvoaçar pelo estômago. Senti as borboletas duas vezes. Na primeira vez tinha 14 anos (...) dei-lhe a mão para a ajudar a levantar-se.
(...)
A outra vez foi quando fazíamos um jogo de olhos vendados (...) ela estava atrás de mim, e para se equilibrar tinha de me segurar, com as mãos nas minhas costas. Mas, em vez disso, ele deu-me as mãos. E eu segurei as dela. E foi aí que se soltaram as borboletas. Foram as minhas primeiras borboletas a sério. Seguiram-se mais dois dias de olhares profundos, de cachorro apaixonado, mas nada. Nem ela me dizia nada, nem eu tinha a coragem de avançar.

1.10 - Almas Gémeas

 É perante os conflitos, as dificuldades, os obstáculos, os choques de personalidade, que descobrimos, verdadeiramente, a outra pessoa. É da capacidade de adaptação (aos defeitos, aos desleixos do outro), da vontade do outro em aceitar os nossos defeitos, da humildade de cada um em mudar o que podemos que nasce o amor, que se constroem almas gémeas.
Noutros casos, há encontros e desencontros (...) fica a lembrança, o carinho, o respeito (...) mas fica a certeza que iremos encontrar outra pessoa à nossa medida.


Miguel
excertos de "Os Lusíadas" de Luís de Camões


Fernando
"Este é o Poema do Amor" de António Gedeão

O poema que o poeta propositadamente escreveu
só para falar de amor,
de amor,
de amor,
de amor,
para repetir muitas vezes amor,
amor,
amor,
amor.
Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico
contar as palavras que o poeta escreveu,
tantos que,
tantos se,
tantos lhe,
tantos tu,
tantos ela,
tantos eu,
conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu
foi amor,
amor,
amor.

 Este é o poema do amor.


Helena Nogueira

"Cantiga, partindo-se" de João Roiz de Castel-Branco

Senhora, partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida
Partem tão tristes os tristes
Tão fora d’ esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.



Isabel
"Amar" de Carlos Drummond de Andrade


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Antónia

O Amor de Fernando Pessoa

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..



Marília

"Amor" de José Luís Peixoto de A Casa, a Escuridão

o teu rosto à minha espera, o teu rosto
a sorrir para os meus olhos, existe um
trovão de céu sobre a montanha.

as tuas mãos são finas e claras, vês-me
sorrir, brisas incendeiam o mundo,
respiro a luz sobre as folhas da olaia.

entro nos corredores de Outubro para
encontrar um abraço nos teus olhos,
este dia será sempre hoje na memória.

hoje compreendo os rios. a idade das
rochas diz-me palavras profundas,
hoje tenho o teu rosto dentro de mim.



João
excerto de "Memorial do Convento" de José Saramago


Fernanda, Graciete, Helena e Cristina


Introdução:
Amor … Amor … Amor … Amor …! Quantas  versões diferentes para uma mesma palavra! Quantas mensagens ocultas  no amor  …
Diz-se que o amor é o motor da vida!
Diz-se que o amor é a razão de se viver!
Diz-se que o amor é o melhor que existe!
Diz-se que o amor é tormento, a falta de amor é morte… ( Marie Von Ebner-Eschenbach
Diz-se que o amor é cego, e os amantes não podem ver as deliciosas loucuras que eles mesmos cometem… (Shakespear)
Diz-se que o amor  que se procura é bom, mas o que se recebeu sem busca é melhor… (Shakespear)
Diz-se que o amor dá espírito às mulheres e retira-o aos homens …
Amores simples amores plurais!
Enfim, poderíamos continuar, eternamente, estas expressões mas, na vida há que fazer opções e também nós fomos obrigadas a fazê-las. Por isso, escolhemos - entre as centenas de poetas possíveis - Vinicius de Moraes, e os seus diferentes tipos de amor.
Somos quatro e, assim, vamos ler-vos quatro poesias que retratam o que aqui afirmámos.
A Cristina vai apresentar-vos “Amor”; A Helena “Ternura”; a Graciete  “Ai, quem me dera” e eu , Fernanda, “Mas que amor de cachorrinha!”.
Vamos então ouvir estas belas mensagens e no final teremos….


Cristina
"Amor" de Vinícius de Moraes de Poesias escolhidas

Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca
Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo
Vamos subir no elevador, vamos sofrer calmamente e sem precipitação?
Vamos sofrer, amor? males da alma, perigos
Dores de má fama íntimas como as chagas de Cristo
Vamos, amor? vamos tomar porre de absinto
Vamos tomar porre de coisa bem esquisita, vamos
Fingir que hoje é domingo, vamos ver
O afogado na praia, vamos correr atrás do batalhão?
Vamos, amor, tomar thé na Cavé com madame de Sevignée
Vamos roubar laranja, falar nome, vamos inventar
Vamos criar beijo novo, carinho novo, vamos visitar N. S. do Parto?
Vamos, amor? vamos nos persuadir imensamente dos acontecimentos
Vamos fazer neném dormir, botar ele no urinol
Vamos, amor?
Porque excessivamente grave é a Vida.

Helena
"Ternura" de Vinícius de Moraes de Antologia Poética


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

Graciete

"Ai, quem me dera" de Vinícius de Moraes de Poesias escolhidas

Ai quem me dera, terminasse a espera
E retornasse o canto simples e sem fim...
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim

Ai quem me dera percorrer estrelas
Ter nascido anjo e ver brotar a flor
Ai quem me dera uma manhã feliz
Ai quem me dera uma estação de amor

Ah! Se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem ser casais

Ai quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afins
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim

Ai quem me dera ouvir o nunca mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E finda a espera ouvir na primavera
Alguém chamar por mim...



Fernanda
"Mas que amor de cachorrinha!"de Vinícius de Moraes de Poesias escolhidas


Mas que amor de cachorrinha!
Mas que amor de cachorrinha!

Pode haver coisa no mundo
Mais branca, mais bonitinha
Do que a tua barriguinha
Crivada de mamiquinha?
Pode haver coisa no mundo
Mais travessa, mais tontinha
Que esse amor de cachorrinha
Quando vem fazer festinha
Remexendo a traseirinha?

Uau,uau,uau,uau!
Uau,uau,uau,uau!



Ana Maria
"Acho que gosto de ti" de Nuno Cardoso Dias


Por ti
faria a Lua florir
bem-me-queres amarelos,
tulipas vermelhas,
rosas azuis.

Bem sei
que não lhes sentirias o aroma,
assim, a tantos quilómetros de distância.
Mas que importa o aroma que sentes
se o puderes imaginar?

Bem sei
que as flores são pequeninas.
Mas eu plantaria mil delas,
mil de cada, mil milhões
e esperaria, paciente, que crescessem,
até que toda a Lua florisse para ti,
ao chegares à janela.

Bem sei
que na Lua não há oxigénio
e as flores não poderiam sobreviver,
mas eu iria todos os dias
com o peito cheio de ar
e faria respiração boca-a-pétala.
De caminho tratava das lagartas,
(menos duas ou três por causa das borboletas),
e depois entrava na atmosfera de pára-quedas
com a sensação do prazer cumprido.

Bem sei
Que as flores morreriam ao fim de dois dias
por si ou arrancadas
por quem gosta de ver brancas as paredes da Lua.
Mas nada disso importava
se ao menos duas delas conseguissem
abrir-se ao espaço
e encher de pólen as estrelas.

As flores são efémeras, bem sei.
Também eu, tu e o que sentimos.
Mas aqui e agora, a lua é da cor que quisermos.
E eu,
Eu acho que gosto de ti.


Eugénia
excerto de "Vai aonde te leva o coração" de Susanna Tamaro


Ana Brandão
"Amor" Ana Paula Tavares do livro "De viva voz - antologia de poesia"


Anabela e Alexandra
Amor é fogo que arde... de Luís de Camões


Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
é  solitário andar por entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?



Cíntia

"Sorte Grande" de João Só e Abandonados

Olha lá,
Já se passaram alguns anos
Nem sequer vinhas nos meus planos
Saíste-me a sorte grande

E eu cá vou
Gozando os louros deste achado
Contigo de braço dado para todo o lado

Eu vou até morrer ser teu se me quiseres
Agarrado a ti vou sem hesitar
E se o chão desabar que nos leve aos dois
Vou agarrado a ti

Meu amor na roda da lotaria
Que é coisa escorregadia
Saíste-me a sorte grande

E eu cá vou
À minha sorte abandonado
Contigo de braço dado para todo o lado

Eu vou até morrer ser teu se me quiseres
Agarrado a ti vou sem hesitar
E se o chão desabar que nos leve aos dois
Vou agarrado a ti

Olha lá,
Por mais que passem os anos
Por menos que eu faça planos
Sais me sempre a sorte grande

Agarrado a ti vou sem hesitar
E se o chão desabar que nos leve aos dois
Vou agarrado a ti

vou sem hesitar
E se o chão desabar que nos leve aos dois
Vou agarrado a ti
Vou agarrado a ti
Vou agarrado a ti


a Ana Brandão sugeriu "Morte aos Feios" de Boris Vian

o primeiro namoro livresco do cleva 3.0

a Cristina Paiva trouxe "Os livros que devoraram o meu pai" de Afonso Cruz para a Fernanda





próxima sessão - 16 de outubro

será o tema

será responsável pelo livro do dia



O onírico em literatura





trabalho de grupo com o texto:


Rêve Oubliê

Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti

Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna

Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo

Contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada

Abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro

E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.

António Maria Lisboa



Cíntia
excerto de "O arranca corações" de Boris Vian


Isabel
excerto de "Cem anos de solidão" de Gabriel Garcia Marquez


Anabela
excerto de "A linguagem dos sonhos" de Julia e Derek Parker


Ana Vieira
Ode à vida de Pablo Neruda de "Odes elementares"


Eugénia

A Fada das Crianças

Do seu longínquo reino cor-de-rosa,
Voando pela noite silenciosa,
A fada das crianças, vem, luzindo.
Papoulas a coroam, e, cobrindo
Seu corpo todo, a tornam misteriosa.
À criança que dorme chega leve,
E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,
Os seus cabelos de ouro acaricia —
E sonhos lindos, como ninguém teve,
A sentir a criança principia.
E todos os brinquedos se transformam
Em coisas vivas, e um cortejo formam:
Cavalos e soldados e bonecas,
Ursos e pretos, que vêm, vão e tornam,
E palhaços que tocam em rabecas…
E há figuras pequenas e engraçadas
Que brincam e dão saltos e passadas…
Mas vem o dia, e, leve e graciosa,
Pé ante pé, volta a melhor das fadas
Ao seu longínquo reino cor-de-rosa.

 Fernando Pessoa


Helena, Fernanda, Cristina e Graciete
adaptação de O mito de eros e psique de "Os meus primeiros mitos gregos"

Introdução

  O onírico em Literatura foi o desafio que nos foi apresentado desta vez.
Como sempre, vários eram os caminhos que se nos depararam mas, optámos por escolher o mito. Pensamos que o mito - fazendo parte integrante do sonho - é talvez o maior de todos os sonhos uma vez que é coletivo. “ O mito é o nada que é tudo” assim disse Fernando Pessoa no seu livro Mensagem, no 1º verso do poema “Ulisses”.
E a mitologia grega é das provas mais evidentes, pois os gregos criaram os mitos não só para preservarem a história do seu povo como para explicar os fenómenos da natureza que nessa época não tinham uma explicação científica. O mito sobreviveu à Ciência e continua –  embora numa outra dimensão, claro está – a pertencer aos povos.
De tal modo, que após a Grécia ter sido dominada pelo Império romano em 272 a.C, os romanos também adotaram estes deuses, mas com outras designações. E é assim que Eros,  deus do amor,  corresponde ao Cupido romano. Psique é a Alma; Afrodite, mãe de Eros, é a Vénus; Perséfone é a Prosérpina e Zeus é Júpiter, deus de todos os deuses. O Monte Olimpo Montanha da antiga Grécia, é onde viviam todos os deuses.
E, entre tantos mitos, escolhemos aquele que nos pareceu mais adequado ao tema: o mito de Eros e de Psique. Porém, fizemos  uma adaptação. Porquê uma adaptação? Para tornar o texto numa linguagem mais simplificada e atrativa!
O facto é que em todos os tempos, o sonho comandou a vida – e aqui  relembramos  António Gedeão  e a  Pedra Filosofal, e Pelo sonho é que vamos  de Sebastião da Gama.
Vamos, então,   dizer-vos  o mito de Eros e de Psique:


 O  mito   -  Eros e Psique

O pai e a mãe de Psique falavam assim:
- A minha filha é a rapariga mais bonita do mundo!    
-Ela é ainda mais bonita do que Afrodite!                     
Afrodite, a deusa do amor, ouviu-os a vangloriarem-se, e ficou absolutamente furiosa. Como podia uma simples rapariga mortal ser mais bonita que uma deusa? E saiu, num turbilhão, à procura do filho, Eros.
Eros era um jovem malicioso que tinha um arco e flechas mágicos. Quando atingia uma pessoa com uma destas flechas, ela não sentia dor, mas apaixonava-se instantaneamente por qualquer pessoa que visse.
Afrodite ao encontrar seu filho ordenou-lhe:
- Eros, quero que faças com que Psique, aquela rapariga desprezível, se apaixone, de preferência por um monstro horrível.
Eros partiu imediatamente em busca de Psique. Gostava de fazer com que as pessoas menos prováveis, até os deuses, se apaixonassem. Encontrou Psique a dormir na relva da encosta de uma montanha. Tirou uma flecha da sua aljava, mas tropeçou numa pedra e a flecha foi direta à sua própria perna. E logo se apaixonou profundamente por Psique. Olhava Psique, perguntando-se o que fazer. Se Afrodite alguma vez descobrisse que ele amava esta bonita rapariga, ela ficaria furiosa com ele. Teria de guardar segredo, fosse como fosse. Pouco depois, Eros pensou num plano. Levou Psique, que continuava adormecida, para o seu maravilhoso palácio, e deitou-a cuidadosamente numa cama. E deixou-a ali ficar.
Nessa noite, e durante muitas noites, Eros ia para o palácio quando estava escuro e saía, todas as manhãs,  antes dos primeiros raios da aurora. De início, Psique estava assustada com este homem que nunca vira. Mas ele era tão carinhoso para com ela e falava com ela com tanto doçura que depressa começou a esperar as suas visitas com ansiedade. Um dia Eros disse-lhe:
- Nunca deves tentar descobrir quem eu sou.
As irmãs de Psique ouviram dizer que ela vivia sozinha num belo palácio e foram visitá-la. Queriam saber tudo sobre o homem misterioso, e provocaram-na.
- Talvez ele já tenha mulher e uma série de filhos.
- Talvez ele não deixe que o vejas porque é horrível! Talvez seja um monstro.
- Vão-se embora! Não vos vou dar ouvidos.
Mas quando as irmãs se foram embora, ela sentia-se tão curiosa quanto elas. Ansiava vê-lo. Nessa noite, quando Eros estava a dormir, Psique desceu sorrateiramente e acendeu uma pequenina lamparina de azeite. Em bicos de pés, regressou com a lamparina e levantou-a para poder olhar para o homem que nunca vira antes. Regozijou-se por ele ser jovem e bonito, e sabia que o amava. Debruçando-se sobre ele para o ver mais de perto, uma gota de azeite quente da lamparina caiu no braço dele. Eros acordou e olhou Psique, zangado. Em seguida levantou-se de um salto e, sem dizer uma palavra, rompeu para fora do palácio na escuridão da noite.
Psique atirou-se para cima da cama e chorou até o dia nascer. Vagueou todo o dia, triste, pelo palácio, e, à noite, esperou, desejando desesperadamente que o homem que ela vira viesse ter com ela. Mas,  embora tivesse ficado acordada toda a noite, ele não veio. Durante semanas, Psique esperou e chorou. Depois durante meses, procurou por toda a parte o homem que amava.
Quando já não aguentava mais, rezou a Afrodite:
- Deusa do Amor, por favor, ajuda-me!
- É o meu filho Eros que tu amas, mas não podes esperar que um deus ame uma mortal idiota como tu. Embora ele possa voltar para ti, se realizares as tarefas que eu te der.
- Prometo! Prometo fazer tudo o que quiseres se me trouxeres o meu amor de volta…
Afrodite levou-a para um celeiro. No chão estava uma enorme pilha de trigo, centeio e cevada e Afrodite disse-lhe secamente:
- A tua primeira tarefa é separar estes cereais em três montes diferentes até ao fim do dia.
Psique sentou-se e começou a separar os cereais. Cerca de uma hora depois, apercebeu-se de que levaria anos a terminar a tarefa. Olhou a enorme pilha de cereais, desesperada. Depois reparou numa longa coluna de formigas que marchavam pelo solo. Quando chegavam à pilha de cereais, cada formiga agarrava um grão e levava-o para um dos três montes. Ao final do dia, os cereais tinham sido separados em três montes diferentes: um de trigo, outro de centeio e outro de cevada. E as formigas foram-se embora. Afrodite não ficou contente por Psique ter completado a tarefa. Não sabia que Eros enviara as formigas para ajudarem Psique.
- A tua próxima tarefa é ir ao Mundo Subterrâneo buscar uma caixa de unguento de beleza de Perséfone.
A pobre Psique nem sequer sabia como encontrar a entrada para o mundo subterrâneo. Mas, com mais uma ajuda secreta de Eros, ela entrou corajosamente, atravessou o rio Estige com o barqueiro e chegou ao trono de Perséfone. A Rainha do mundo subterrâneo deu a Psique a caixa de unguento dizendo-lhe:
- Nunca abras esta caixa pois ela pode trazer-te muitas complicações.
E,  com a ajuda de Eros, Psique depressa encontrou a saída do Mundo Subterrâneo. Mas Psique pensou que, se pusesse no rosto apenas um pouco de unguento de beleza, seria ainda mais bonita e Eros poderia voltar a amá-la. Parando por um momento, levantou a tampa da caixa. Não continha unguento de beleza, mas o sono interminável, que era a morte. De imediato, Psique adormeceu. Eros, que estava a observar tudo, apressou-se a ir ter com Psique e, com um sopro, afastou-lhe o sono dos olhos para a acordar. Psique, então, levou a caixa a Afrodite, enquanto Eros voou até Zeus, o mais poderoso de todos os deuses.
- Por favor, Zeus. Eu quero casar com Psique, mas não posso, a não ser que tu primeiro  a tornes imortal.
 Zeus que estava bem disposto, sorriu e concordou.  Então, Eros foi juntar-se a Psique e disse-lhe:
 - Vem! Vamos para o monte Olimpo, e lá nos casaremos. Seremos muito, muito felizes e para sempre.


Alexandra
excerto de "O traseiro do rei" de Raquel Saiz


João
excerto de "Em busca do carneiro selvagem" de Haruki Murakami


Cristina
Como o Manuel não pôde estar presente, a Cristina apresentou o LIVRO DO DIA: