O antigo Clube de Leitura em Voz Alta deu lugar ao Coro de Leitura em Voz Alta. Tem normalmente um periodicidade quinzenal e acontece na Biblioteca de Alcochete.

Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.

Desporto



* * *

a Cristina e o Fernando leram

Nadia Comaneci

Entrada com mortal de costas
seguida de pirueta na trave
Nova pirueta
sem que um só músculo trema
Saída com duplo mortal encarpado
e queda com ligeira flexão de pernas

neste poema

Jorge Sousa Braga
de Poeta Nú


a Mariana trouxe um convidado, o Tomás
e juntos leram

Desporto e Pedagogia I

Diz ele que não sei ler
Isso que tem? Cá na aldeia
Não se arranjam dúzia e meia
Que saibam ler e escrever.

II

P'ra escolas não há bairrismo,
Não há amor nem dinheiro.
Por quê? Porque estão primeiro
O Futebol e o Ciclismo!

III

Desporto e pedagogia
Se os juntassem, como irmãos,
Esse conjunto daria,
Verdadeiros cidadãos!
Assim, sem darem as mãos,
O que um faz, outro atrofia.

IV

Da educação desportiva,
Que nos prepara p'ra vida,
Fizeram luta renhida
Sem nada de educativa.

V

E o povo, espectador em altos gritos,
Provoca, gesticula, a direito e torto,
Crendo assim defender seus favoritos
Sem lhe importar saber o que é desporto.

VI

Interessa é ganhar de qualquer maneira.
Enquanto em campo o dever se atropela,
Faz-se outro jogo lá na bilheiteira,
Que enche os bolsinhos aos que vivem dela.

VII

Convém manter o Zé bem distraído
Enquanto ele se entrega à diversão,
Não pode ver por quantos é comido
E nem se importa que o comam, ou não.

VIII

E assim os ratos vão roendo o queijo
E o Zé, sem ver que é palerma, que é bruto,
De vez em quando solta o seu bocejo,
Sem ter p'ra ceia nem pão, nem conduto.

António Aleixo
de Este Livro que Vos Deixo


a Ana Maria e o António leram
O futebol

Fui educado para assistir em jejum à missa da manhã, almoçar uma grande tigela de canja de galinha com arroz branco e uma folhinha de hortelã - e depois enfrentar o prazer e a angústia das tardes de domingo. Eram tardes velozes e supremas, passadas à sombra do eucalipto ou da azinheira, a ouvir os relatos de futebol, tardes suspensas das vozes do locutor, do público presente nos estádios, de um auditório que o homem do rádio saudava dizendo “bom dia, boa tarde ou boa noite... conforme a hora e o local em que nos escuta”. Misturadas, eram vozes claramente desavindas, erguendo-se em estado de paixão, colidindo entre si, tomando partido por factos ou coisas que nunca tinham importância - até que alguém pedia calma a esses beligerantes do vinho e do esquecimento e todos voltavam à escuta do futebol. Ensinaram-me também a acreditar na festa dos campeões portugueses, a erguer bem alto, com orgulho e distinção, as cores da minha bandeira, a celebrar, nas quartas-feiras europeias, os furiosos sucessos dos “nossos”. Por duas ou três vezes, aliás, todos nós, desportistas sedentários, fomos campeões europeus. Uma vez vencedores da taça das taças, várias outras finalistas das mais exigentes competições de um continente remoto e difícil, ao centro do qual se chegava, no fim de longas e tormentosas viagens, num comboio chamado “Lusitânia”. Tempo de cisne e flor-de-lis, o desses campeões do nosso orgulho sem preconceito; véspera deste tempo de agora, que já não traz consigo a invisível vibração dos domingos de outrora. Eu lembro-me dele. Sobretudo, nunca mais o esqueci. Sempre preferi as vitórias morais aos louros comprados nos mercados negros e nas praças estrangeiras. Os meus ídolos de então jogavam conscienciosamente, por amor à camisola, em nome da mística, da massa associativa, da história do clube, e por respeito a quem havia pago bilhete para ver a verdade e a transparência do espectáculo das multidões. O meu jornal desportivo aludia com pudor ao prémio da vitória, dado em cifrões modestos e condignos; na mesma página, em caracteres redondos, dentro de um filete desenhado a grosso, vinha a contabilidade dos suores e sacrifícios da glória: os jogadores do meu clube perdiam, em média, dois quilos e não sei quantos gramas por jogo, com excepção do guarda-redes e dos suplentes (não eram, aliás, permitidas substituições). E tudo estava lusitanamente certo, nesse tempo da infância e do princípio da minha adolescência. Agora, eles não jogam à bola. Fazem comércio com o inimigo: como os mercenários, são pagos para fazer a guerra. Gabam-se disso. E prezam-se de terem sido comprados e vendidos nos mercados do ouro. Se alguém os contesta ou põe em causa, eles defendem com unhas e dentes os seus privilégios: dizem que a vida atlética é breve, que apenas olham pelo futuro da família e acautelam o dia de amanhã. Como se aos 35 anos, quando todos deixam a alta competição, fossem uns pobres inválidos, e não aqueles gordos ricos, ostensivamente analfabetos - broncos e reaccionários como coiros. É nos bairros mais elegantes das cidades que eles exibem carros de luxo e grandes casas com jardim, relvado e piscina. Os seus cheques, quando públicos (e só em situações escandalosas isso acontece), colocam-nos à margem do zelo e da justiça de todo o fisco. Oitocentos mil contos pagam uma transferência futebolística, dez mil contos mensais pagam as pernas e a cabeça de uma espécie de guerrilheiro que finta, corre, assoa-se aos dedos e limpa-se à relva, cai sobre o relvado, vocifera caralhotas contra um árbitro vestido de luto - no qual vejo quase sempre um atleta frustrado, um ditador sem povo, um corno partido, um furioso masoquista. O futebol português existe graças ao país irreal, ao país que, não existindo, acredita numa “movida” social e política que não é sua. Neste que é, se não me engano, o tempo do dinheiro e da imoralidade. Não o compreendo. Não sei viver num tempo assim. O meu problema é não saber como voltar para trás, sem o desprazer e a vergonha de já ter sido adepto do futebol e das suas multidões. De certa forma, trata-se de confessar uma traição aos desejos e sentimentos da minha fé; deixar de acreditar naqueles dirigentes barrigudos, mais ou menos analfabetos, em tempos prometidos às riquezas e ao ideário político do fascismo. E devo descrer também destes novos ídolos. Não passam de rapazinhos volúveis que um dia fizeram a vida negra aos pais e aos professores: desistiram de estudar, casaram com mulheres odiosamente frívolas, encheu-se-lhes a cabeça daqueles sonhos que deslizam como a areia espremida entre os dedos. Todos estão à venda. Vendem-se por um saco de notas e um prato de ostras. Num só mês, ganham muito mais do que aquilo que nós recebemos por meia dúzia de anos de trabalho. Ainda assim, consideram-se sempre mal pagos, mal-amados, uns incompreendidos. E está certo: nós exercemos artes dispensáveis, trabalhos medíocres, ofícios e ideias pobrezinhas. Padecemos de insónias e dores musculares. E não somos deste mundo. 

(Zambujal, Julho de 1993)



a Mila leu um excerto de

Dança, dança, dança

(...)
- E nesse caso, o que devo fazer? - voltei eu à carga.
- Dançar - respondeu o homem-carneiro. Enquanto houver música, deves continuar sempre a dançar. Compreendes o que te estou a dizer? Dançar, continuar sempre a dançar. Não perguntes porquê. Não te ponhas a pensar no sentido das coisas. O significado pouco ou nada importa. Se começares a pensar nisso, os teus pés ficam bloqueados. E, uma vez parado, deixarei de te poder ajudar. A ligação entre nós deixará de existir. Para sempre. E a ti, só te restará viver unicamente neste mundo. Serás progressivamente sugado para dentro dele. Por isso, nunca deixes de mover os pés. Continua sempre a dançar, dê lá por onde der. Mesmo que te pareça uma perfeita estupidez, não penses duas vezes. Continua sempre a fazer os passos, um após outro. E tudo o que estava endurecido e bloqueado, aos poucos começará a perder a rigidez. Para certas coisas ainda não é demasiado tarde. Utiliza todos os meios ao teu alcance. Dá o teu melhor. Não há que ter medo. Bem sei que estás cansado. Cansado e com medo. Acontece aos melhores, não sei se estás a ver? Toda a gente passa por isso, por esses momentos em que tudo parece perdido. Agora vê lá, não deixes que os teus pés fiquem parados. (...)

de Haruki Murakami


a Ana Maria leu, também do Murakami, um excerto de
"Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo"


e a Vitória continuou a falar-nos do mesmo escritor,
com a leitura de excertos do capítulo "Murakami",
do livro
A Maratona de Nova Iorque - Crónica de um corredor acidental

Sobre o romance do escritor japonês Haruki Murakami, que pratica corrida e, cujo título, em inglês, é "What I talk when I talk about running", mas que foi editado em Portugal como: “Auto-Retrato do Escritor enquanto corredor de fundo.

Um dos aspetos fundamentais deste livro, (…) é o paralelo que estabelece entre a manutenção de uma atividade física diária, baseada na prática da corrida, e o desenvolvimento e preservação das faculdades mentais necessárias para o processo de escrita criativa. O autor descreve a corrida como metáfora da escrita.” (…)
Na altura em que terminou o livro, em 2006, o autor tinha completado 25 maratonas, realizadas em diversas partes do globo. (…)
Os primeiros dois livros foram escritos em acumulação com o trabalho no Jazz Clube [que detinha em Tóquio]. Um esforço extenuante, que o obrigava a escrever pela noite fora, num período de tempo roubado ao sono. A vontade de escrever um romance de peso obrigaria a que escrevesse de forma continuada, e exigia maior concentração. Por isso, trespassou o bar para se dedicar à escrita a tempo inteiro, em 1981. O abandono do bar remeteu-o para uma vida sedentária, tendo começado a ganhar peso. Por outro lado o processo criativo levou-o a fumar de forma compulsiva. Por tais motivos Murakami sentiu necessidade de praticar exercício físico para ajudar a manter a forma. A corrida apareceu-lhe como uma opção natural, enquanto pessoa que gostava de estar sozinho e não apreciava a prática de desportos que obriguem à dependência de terceiros. Tinha 33 anos na altura. (…)

…Como diz o autor, o sofrimento e a dor dão-nos o sentimento de estarmos vivos.

de António Goucha Soares


a Antónia também escolheu o poema
"Desporto e pedagogia" de António Aleixo


a Eugénia e a Rosa leram e jogaram com excertos de
"O desporto na escola" de Georges Belbenoit

a Alexandra leu um excerto de
Espectáculo

Quando
tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera dum penalty
que eu vou transformar para ti
eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede
não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
vem falar comigo como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos jogar
(...)

de Sérgio Godinho


o António leu
Eusébio

Havia nele a máxima tensão
Como um clássico ordenava a própria força,
sabia a contenção e era explosão,
havia nele o touro e havia a corça.

Não era só instinto, era ciência,
magia e teoria já só prática.
Havia nele a arte e a inteligência
do puro jogo e sua matemática.

Buscava o golo mais que golo: só palavra.
Abstracção. Ponto no espaço. Teorema.
Despido do supérfluo rematava
e então não era golo: era poema.

Manuel Alegre


a Cristina leu excertos de "Uma pequena história do Mundo" de E.H. Gombrich e...
de quando os atletas encomendavam odes para celebrar o seu previsível triunfo

Quando o sucesso recompensa o esforço, precisa o atleta
da doçura dos hinos, que preludiam as glórias longínquas,
em testemunho verídico dos grandes feitos.
Aos vencedores olímpicos, nem a inveja ousa contestar
Essa glória que é seu privilégio.
Tais vitórias, minha língua se apresta a poetar,
Mas é a divindade que confere ao homem o talento.
Assim, Agesídamas, filho de Arquestrato,
Em honra de teu pugilato, acrescentarei
à preciosa coroa de oliveira que obtiveste,
o ornato de meus versos melodiosos,
e renderei homenagem à raça dos Lócrios Zefirenses.

de Píndaro
tradução de Guida N.B.P.Horta



a Alexandra trouxe-nos não um, mas dois autores que desconhecia;
Mário Lúcio de Sousa e o livro "O Novíssimo Testamento"
e

Kosztolányi Dezsö
com o conto "O amigo norte-americano"

Há seis ou sete anos travei conhecimento com um rapaz norte-americano muito simpático. Tendo descido de Viena pelo Danúbio em seu barco desmontável, passou ele o verão em Budapeste. Tinha cabelos louros da cor do mel, dentes alvos, cintilantes, camisa "de apache", de colarinho aberto. Foi-me apresentado num grupo de amigos. Fez-nos várias visitas, e nós também fomos vê-lo uma vez. Não me lembro de mais nada a respeito dele. Depois, foi-se embora. Trocamos cartões de visita e prometemos que escreveríamos um ao outro. Porém, nenhum de nós escreveu.

Há tempos recebi, de um dos hotéis da cidade, um bilhete escrito por outro norte-americano que viera também passar uma temporada aqui em companhia da mulher. Há muitos norte-americanos no mundo. Referindo-se ao meu amigo de cabelos de mel, perguntou-me quando poderia visitar-nos. Ao mesmo tempo, informou-me de que, de certa maneira, era parente do outro. Com efeito, o meu amigo se tinha casado no decorrer de todos aqueles anos e se tinha também divorciado; pois ele, o autor do bilhete, era cunhado da ex-mulher do meu amigo.

O parentesco pareceu-me um pouco vago. Fosse como fosse, respondi que teríamos o maior prazer em recebê-los, tanto mais quanta desejávamos ter notícias do nosso amigo, mas no momento, toda a nossa família estava gravemente gripada. Julguei ter liquidado a assunto por meio dessa mentira inocente.

Enganara-me. Uma semana depois o norte-americano perguntou-me, noutro bilhete amável, se estávamos passando melhor. Respondi-lhe, por um bilhete não menos gentil, que estávamos inteiramente bem, e convidei-os a tomar chá connosco na fim da semana.

Foi quando efectivamente todos nós fomos acometidos de gripe. Alegar doença era impossível; pareceria mentira deslavada. Mandei, pois, telefonar que tivéramos de viajar com urgência. Mas, envergonhado, não esperei uma terceira carta. Eu mesmo escrevi longamente, num tom humilde, como que implorando perdão, rogando que eles mesmos marcassem o dia e a hora da visita. Para nós qualquer momento servia; fazíamos questão era de vê-los. Chegou a resposta ansiosamente esperada: vinham visitar-nos domingo, às seis da tarde.

Por mim, sempre tenha sido cortês com os estrangeiros. Inspiram-me simpatia e, ao mesmo tempo, compaixão. Ser estrangeiro na país dos outros é como que sofrer de doença orgânica. Longe da minha pátria, eu mesma sinto-me um aleijado. Vou de um lado para outro às apalpadelas, não conheço as pessoas, ignoro a cotação das palavras e das expressões. Aguardava, pois, a visita com sincero arrependimento, ansioso da expiação. Acontece, porém, que na domingo me encontrei mergulhado no trabalho. Acometera-me uma verdadeira febre de escrever, e escrevia cada vez mais enlevado. Olhava desesperado para os ponteiros, que corriam rápidos. À medida que o tempo passava, acabaria dando a vida para que não se realizasse aquele encontro.

Que podia fazer? A doença, a viagem, já constituíam desculpas esfarrapadas. Passei algum tempo numa revolta estéril. Por fim, no começo da tarde, tive uma ideia luminosa. Aqueles bons norte-americanos não me conheciam. Conheciam, isto sim, um conhecido meu, a quem, aliás, eu mal conhecia. Telefonei, pois, a um velho amigo, engenheiro desempregado, e pedi-lhe que me substituísse. Primeiro, não queria atender-me. Afinal, ante a promessa de uma indemnização, concordou. Telefonei depois à uma professora de inglês para que, mediante o dobro do que cobrava por aula, desempenhasse as funções de dona de casa. Ela aceitou, também.

Os dois chegaram-me à casa às quatro da tarde, coma dois conspiradores. Apresentei-os um ao outro e expliquei-lhes o papel que lhes cabia desempenhar. De modo geral, tinham de comportar-se como nós mesmos nos comportaríamos na ocorrência; dizer "sim" a maioria das vezes, "não" de vez em quando. A respeito do tempo deviam observar que era bonito, em relação à situação mundial, que era horrível. Haviam de mostrar às visitas a nosso apartamento, eventualmente os retratos da família. O chá já estava sendo preparado. Deixei-os.

O êxito da reunião superou toda a expectativa. As visitas ficaram até às nove e meia e tardaram a ir-se embora. O meu amigo engenheiro recebeu os cumprimentos com grande modéstia, qualificou a minha actividade de bobagem insignificante, fez entrar as visitas no meu gabinete (na realidade, foi na sala de jantar, mas isso não fez a menor diferença), e escutou com um sorriso entre meditativo e saudoso o relatório da vida do meu amigo de cabelos cor de mel. A professora, por sua vez, desempenhou às mil maravilhas o papel de esposa ideal, cortando a cada instante a palavra do marido e contradizendo-o a propósito de tudo.

No dia seguinte o mensageiro do hotel trouxe-nos um lindíssimo ramo de lilases brancos acompanhado de uma carta. Os americanos, cheios de gratidão, afiançaram-nos que em toda a sua vida nunca se tinham divertido tanto; por mais que o meu amigo nos tivesse elogiado, não acreditaram que eu possuísse um espírito tão irresistivelmente encantador e minha mulher um senso de hospitalidade tão cativante.

O casal voltou à América do Norte, onde contaram ao meu amigo de cabelos cor de mel a magnífica recepção que tiveram. Ele agradeceu-nos a gentileza numa carta comovidíssima. Desde então não paramos de nos corresponder, e a nossa amizade está ficando cada vez mais profunda. Por outro lado, vim a saber que o engenheiro e a professora deram para encontrar-se com certa frequência.

A mentira é como um grão de poeira. Eu esperava que se diluísse no ar. Em vez disso, está-se avolumando cada vez mais. Aguardo os acontecimentos com verdadeira ansiedade.


e para terminar palitos de chocolate e laranja da Cristina, bolo de maçã da Rosa e vinho caseiro da Eugénia

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